domingo, 7 de novembro de 2010

A Epistemologia do Coração.



Todo conhecimento científico parte de um método que garante a 'cientificidade' dele. Tal método permite realizar o salto 'qualitativo' daquilo que, a priori, se encontra como senso comum para assumir a identidade de um saber científico. Assim a racionalidade se apresenta como um crivo, que separa a "crença" daquilo que é "verdade". Após exaustivas observações e experimentações, a Razão proclama o título de conhecimento para aquilo que por ela foi filtrado. É claro que, a cada época, esse método assumi as características e/ou interesses do grupo detêm o poder naquele momento. A Epistemologia, assim, pode ser entendida como sendo o ramo da ciência e/ou da filosofia que discute a conceituação do conhecimento e da crença. É a teoria do Conhecimento. Deixando de lado as discussões filósoficas necessárias para a estrururação de tais conceitos, aqui procurarei transferir os princípios epistemológicos utilizados pelas ciências para o estudo da percepção dos fenômenos vivenciados pelo ''coração''. Para tanto, da mesma forma, como procedemos em uma pesquisa científica, um dos primeiros passos é a identificação de uma situação-problema. Esta situação garantirá a estruturação de todo o projeto. Levando em consideração estas percepções, um dos problemas constantes vivenciados por nosso coração é a identificação das fronteiras entre os sentimentos/ relações vivenciadas pelos indíviduos. Ressaltando, aquilo que "surge" quando uma pessoa, que por algum motivo, percebe algo especial, em uma outra. Eis aqui, uma situação problemática que nos remete aos seguintes questionamentos: O que é amizade? O que é o amor? O que separa a amizade do amor? Ou se há, de fato, tal separação? Vale ressaltar que, quando estudamos as questões do sentir, colocamos abaixo o princípio da neutralidade científica, princípio este, tão 'fantasioso' quanto à ilusão de que somos auto-suficientes, e tão bons que não limitamos e/ou relacionamos a nossa felicidade à companhia/ existência de outra pessoa. Mas a questão pertinente é como saber se aquilo vivido com outra pessoa pode ser identificado como amor ou amizade? Um outro foco desta pesquisa poderia ser a observação da relação existente entre a amizade, o amor e felicidade. Estaríamos preso à necessidade de um amor para sermos felizes? Ou então, até que ponto a felicidade alcançada através da amizade, é capaz de nos complementar, de nos tornar plenos? Dando continuidade ao processo de elaboração do pensamento, a fundamentação teórica é imprescindível. Portanto, para Platão: "A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro". A amizade, desta maneira, é o querer-bem, é o zelo pela felicidade do outro. O amor por sua vez, é um sentimento que nos faz belos e ao mesmo tempo admiradores da beleza. Assim, continua Platão: "Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele". Já Mário Quintana, não explicita um corte entre o amor e a amizade quando afirma que: "Amizade é um amor que nunca morre" Haveria então uma separação real entre nossos sentimentos, quando se trata do amor? Parece-me que tal temática, requer mais experimentações, pois questionamentos não faltam. Quanto mais conceituamos, mais questões emergem... Contudo, por hora, finalizarei com as palavras de Tom Jobim: "Vou te contar, os olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho". E posso dizer que, é loucura tentar racionalizar aquilo que é irracional.